A cultura do cuidado como percurso de paz

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A rubrica “Ecos da Igreja” sintoniza-nos com o pensar da Igreja nos escritos e intervenções do Santo Padre ou com outros eventos e escritos eclesiais que nos ajudam a caminhar na unidade do Povo de Deus que constituímos como baptizados. Com o Padre Rotondi aprendemos que o nosso ser cristão se conjuga necessariamente com a consciente e alegre pertença à Igreja, santa e pecadora, que somos chamados a amar e a testemunhar pela comunhão e unidade que o Espírito Santo promove em nós.

Na diversidade de povos e culturas, na variedade de contextos sociais e eclesiais, nas multifacetadas formas de habitar cada tempo e lugar da história, estamos unidos pela força do Espírito Santo que como artífice da unidade na diversidade nos aponta o caminho a seguir e nos impele a responder numa fidelidade criativa aos desafios de cada tempo e lugar. Por isso, é com alegria que partilho convosco estas linhas na primeira edição desta rubrica, partilhando a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2021.

Os escritos, intervenções e mensagens que o Papa Francisco nos dirige fundamentam e confirmam os seus gestos proféticos e ousados de uma “Igreja em Saída” como Mãe de coração aberto que parte ao encontro dos seus filhos para lhes apontar o horizonte de realização e felicidade que só em Deus se pode encontrar. Muitas vezes ouvimos afirmar que o magistério do Papa Francisco tem um tom eminentemente pastoral e que isso o distingue dos anteriores pontífices. Contudo, importa referir que dizer pastoral não pode significar afirmar a ausência da doutrina eclesial, tampouco dizer que se trata de escritos meramente pragmáticos como exortações parenéticas. Os escritos do Papa Francisco são pastorais porque não existe nenhuma doutrina que não possua uma dimensão pastoral inerente, nem nenhuma pastoral pode ser feita sem uma verdadeira doutrina subjacente. Mas, sobretudo, são pastorais porque manifestam um coração.

Ler e escutar o Papa Francisco sintoniza-nos com as prioridades e preocupações da Igreja e oferece-nos um horizonte de universalidade que nos permite sonhar a comunhão e unidade que Jesus nos legou, pois a Igreja que peregrina por toda a face da terra encontra no sucessor de Pedro o garante da unidade e o desafio da comunhão.

No contexto desta pandemia que estamos a viver, o Papa Francisco para o 54.º Dia Mundial da Paz dirige-nos uma mensagem intitulada: A cultura do cuidado como percurso de paz. Aconselho a leitura deste texto e não pretendo de modo nenhum substituí-lo ou repeti-lo. Pretendo apenas apontar algumas pistas de leitura e sobretudo partilhar o que mais ecoou no meu coração.

A pandemia que atravessamos renovou a nossa consciência de fragilidade e vulnerabilidade tantas vezes ocultada pelo nosso desejo de auto-suficiência. Na verdade, ao longo destes anos foram muitos os sinais de entrega e disponibilidade para o cuidado do próximo, contudo, como afirma o Papa Francisco “É doloroso constatar que, ao lado de numerosos testemunhos de caridade e solidariedade, infelizmente ganham novo impulso várias formas de nacionalismo, racismo, xenofobia e também guerras e conflitos que semeiam morte e destruição”.

Deste modo, o Papa desafia-nos a viver “uma cultura do cuidado” como caminho que nos conduz à realização pessoal e comunitária e à construção do mundo bom e belo que Deus sonhou para nós. Deus Criador, Pai solícito e atento, é modelo na arte de cuidar: por amor nos criou e por amor continua a cuidar de cada um de nós e a recria-nos para nos conduzir à perfeição da santidade.

No seu cuidado paterno, enviou-nos o Seu Filho Jesus Cristo como manifestação plena, total e definitiva da arte de cuidar, confiando àqueles que O seguem este desafio de fazer do mundo um lugar de serviço por amor onde o cuidado pelos outros e pela criação inteira nos sintoniza com o coração de Deus.

A crise pandémica que vivemos é um forte apelo a renovarmos a nossa relação com Deus, com os outros e com a criação e só uma nova cultura do cuidado nos poderá fazer sair desta crise revestidos de uma nova esperança. Que os desafios lançados pelo Papa Francisco nos ajudem a fazer deste novo ano de 2021 um tempo de graça, preenchido pela marca do serviço por amor e, mais do que um ano de 2021 melhor, peçamos um novo ano onde todos procuremos ser melhores.       

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