Uma Igreja a caminho…
Vatican News - Santa Missa com o Papa Francisco (11 de Janeiro de 2021)
Foi no dia 10 de Janeiro que o Papa Francisco aprovou o Motu próprio Spiritus Domini , que visa modificar o primeiro parágrafo do cânon 230 do Código de Direito Canónico, para que, no futuro, esteja composto do seguinte modo: «Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico estabelecido, nos ministérios de leitores e de acólitos; no entanto, tal concessão não lhes atribui o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja».
Obviamente, já era regular na maioria das nossas paróquias vermos mulheres a exercerem as funções de leitoras e acólitas. A novidade não está neste passo e nem era algo “que transgredisse a lei”; a novidade está na instituição de um ministério através de um rito litúrgico administrado pelo Bispo que, antes, estava apenas reservado aos candidatos ao sacramento da ordem; por isso, apenas estava reservado ao género masculino.
Ou seja, esta “pequena” alteração permite que os leigos e leigas possam ser instituídos e instituídas como acólitos/as e leitores/as. Passando a haver assim a possibilidade de uma recognição formal (reforço, de novo, através de um ato litúrgico) de servir o altar e de proclamar a palavra de Deus junto da comunidade.
Poderemos, sempre, ver “o copo meio vazio”, mas eu prefiro vê-lo “meio cheio”. Julgo que este passo é mais uma marca que nos deixa o Papa Francisco. Um Papa que, ao longo do seu magistério, nos fala e pede “uma Igreja em saída”, que nos mostra e fala (ainda que em passos pequenos) de uma Igreja renovada, atenta às mudanças socioculturais, mas sem nunca perder de vista a sua essência e doutrina eclesial. E que, no fim, ainda tem de dar resposta às diferentes culturas, povos e realidades onde se insere a Igreja. Realmente, é preciso ser um homem de Deus e ter grandeza de coração para se ser o sucessor de Pedro.
Espero que, com este “pequeno” passo, possamos abrir a porta à transformação e renovação das nossas comunidades, dando vida ao Concílio Vaticano II, que nos impele a descobrir a importância de todos/as os/as batizados/as. Assim, afirma o Papa Francisco, na carta que escreveu ao prefeito da congregação para a doutrina da fé: “horizonte de renovação traçado pelo Concílio Vaticano II existe hoje um crescente sentido de urgência em redescobrir a corresponsabilidade de todos os batizados na Igreja, e especialmente a missão dos leigos. A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica (6 – 27 de outubro de 2019), no quinto capítulo do documento final, assinalou a necessidade de pensar em “novos caminhos para a ministerialidade eclesial”. Não só para a Igreja Amazónica, mas para toda a Igreja, na variedade de situações, «é urgente promover e conferir ministérios a homens e mulheres... É a Igreja dos batizados que devemos consolidar promovendo a ministerialidade e, sobretudo, uma consciência da dignidade batismal» (Documento Final, n. 95).”.
E que sorte que tenho em fazer parte de um Movimento em que o seu fundador se antecipou à publicação dos documentos conciliares, pois, já em 1950, nos dizia que toda a pessoa é chamada a viver como santa, porque todos/as somos batizados/as no mesmo amor de Deus. Amor esse, que se torna efetivo na entrega do Serviço por amor e que se encontra ao alcance de todos/as os/as batizados/as.
Talvez, para quem é mais apressado e inquieto (e eu sei que, por vezes, também o sou), esta modificação do cânone já venha tarde… Porém, penso que é preciso também acreditar na força e inspiração do Espírito Santo! Apesar de sermos uma Igreja orientada por homens, devemos acima de tudo, ser uma Igreja guiada pelo Espírito Santo! E, muitas vezes, o nosso tempo não é igual ao do Espírito… Mas Ele sabe sempre quando deve atuar. Mesmo sabendo que o Papa Francisco se aconselhou e rezou muito sobre este assunto, acredito que as modificações surgiram agora por ser o tempo certo do Espírito.
O magistério do Papa Francisco tem-nos desinstalado numa “Igreja em saída” e, acredito, que ainda nos irá desafiar mais! Porém, isso não tem de ser necessariamente negativo. Quando o coração se abre ao Espírito está pronto para qualquer mudança, para qualquer desinstalação, porque confia que é Deus que guia.
Contudo, como a Igreja responde a vários contextos sociais, nunca me esquece uma frase que o nosso amigo Pe. Sérgio Leal ouviu do nosso estimado Dom António Francisco “Eu sei que podia ir mais depressa, mas ia sozinho. Prefiro ir devagar e caminhar com todos.”.
Que seja em conjunto e em comunhão que caminhemos em Igreja com o sucessor de Pedro!...