A escola e o coronavírus!
A palavra “Educação”, vem do latim “educare”, derivado de “ex”, que significa “fora” ou “exterior” e “educere”, que tem o significado de “guiar”, “instruir”, “conduzir”, “guiar para fora” e pode entender-se que conduz tanto para o mundo exterior quanto para fora de si mesmo.
A partir do dia 16 de março de 2020, dia em que os alunos ficaram confinados em casa, deu-se uma autêntica revolução no contexto educativo. Diretores, professores e alunos tiveram que se adaptar a novas formas de ensino à distância. Foi um frenesim de formações propostas pelos diretores das escolas para dotar os docentes de ferramentas que lhes permitissem online, o ensino à distância, para continuar o processo de ensino e aprendizagem. Pensou-se que esta seria uma tarefa difícil, árdua, mesmo utópica, pois muitos discentes não possuíam os meios necessários para se dar continuidade ao maravilhoso e grande desafio da educação, que é o de ensinar, e de aprender. Na teoria «todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar» diz a Constituição da República Portuguesa no seu, artigo 74, mas, no entanto, e na prática, todos sabemos que nem sempre é assim.
Foram muitas as fragilidades encontradas, inúmeros os obstáculos que se tiveram de ultrapassar porque, na realidade, os alunos não possuíam todos as mesmas ferramentas, os mesmo contextos familiares, as mesmas oportunidades que lhes permitissem ter sucesso. Os professores tiveram que se (in)formar com novas ferramentas digitais e continuar as aulas online, tiveram ainda o desafio de motivar e envolver os seus educandos para garantir a qualidade das aprendizagens. O contexto de aprendizagem foi alterado radicalmente, alguns alunos conseguiram manter o ritmo de estudo, trabalharam, aprenderam e apreenderam, mas outros, sozinhos em casa, sem qualquer ajuda, não conseguiram superar as inúmeras dificuldades, gerir o tempo, a preguiça, a pouca vontade de trabalhar, e não se empenharam em aprender.
No meu entender são muito pertinentes as palavras do Papa Francisco ao referir que «o coronavírus acentuou a disparidade de oportunidades educacionais e tecnológicas, a ponto de constituir-se uma “catástrofe educativa”.» Mas o recurso a ferramentas digitais, tão diversificadas, trouxe um novo rosto, uma nova visão, à forma, por vezes tão tradicional de ensinar, de transmitir conhecimentos, de ajudar os alunos a tomarem parte mais ativa do seu processo de ensino e aprendizagem. Para muitos continua neste momento a ser uma grande aventura.
Este atípico ano letivo de 2020/2021, iniciou com aulas presenciais, a comunidade educativa voltou à escola em regime presencial, mas a uma escola completamente diferente com um conjunto de regras muito restritivas para todos cumprirem. Assim, as aulas iniciaram presencialmente mas existe um constante vai e vem de alunos e professores, que ficam em casa em isolamento profilático por contatarem com pessoas infetadas ou em isolamento, porque estão infetados com Covid19.
Na comunidade educativa vive-se um sistemático receio de contágio, que o uso obrigatório da máscara, do gel desinfetante, do distanciamento (quando possível, nas salas de aula, nos corredores e no recreio) não consegue suprimir e amenizar.
Pessoalmente, considero que é mais benéfico assim, ensino presencial. Para alguns alunos a escola é essencial. É um local onde usufruem de «bens», no meu entender essenciais (para alguns, até bens alimentares). Também é fundamental a socialização, para a construção de uma identidade saudável e para contrariar o isolamento a que muitos se habituaram com o ensino à distância.
No caso da minha disciplina (EMRC), é ainda mais desastroso este sistema de aulas à distância, pois a proximidade é uma característica muito nossa. É ainda muito nosso, o contato pessoal, o olhar os alunos nos olhos, o sorriso, o abraço, o acolhimento, o toque, para estabelecer uma relação de proximidade tão essencial numa disciplina facultativa, com valores e aprendizagens essenciais, muitas vezes tão pouco valorizadas pela generalidade da sociedade portuguesa. Também a Educação Moral e Religiosa Católica no meu entender está a sofrer imenso com esta pandemia. Curiosamente, um dia destes uma aluna pedia-me que retirasse a máscara para ver como era o meu rosto.
Termino com sábias palavras do Papa Francisco: “É tempo de olhar em frente com coragem e esperança. Que, para isso, nos sustente a convicção de que habita na educação a semente da esperança: uma esperança de paz e justiça; uma esperança de beleza, de bondade; uma esperança de harmonia social!”.