Linha da frente.
Vhils - Linha da Frente: Projeto Scratching the Surface (Junho de 2020)
Já lá vão 11 meses, em que passo os meus dias a fazer, para além das minhas tarefas habituais na USF e na Área dedicada a Doentes Respiratórios da comunidade, onde vejo doentes com suspeita de COVID 19, o acompanhamento diário de pessoas com COVID 19. A maior parte destas pessoas, felizmente têm sintomas ligeiros da doença, no entanto, apresentam muitas dúvidas, angústias, medo, solidão, combatida muitas vezes, na medida do possível, com o nosso telefonema. No entanto, a indiferença, a arrogância, o desprezo, a falta de respeito pelos outros, também esteve e está presente muitas vezes, e isso tem sido o que mais me tem chocado no meio desta pandemia.
Quando se fala em “linha da frente”, todos pensamos naqueles, que trabalham diretamente com os doentes, que passam o seu dia a tentar salvar vidas, a tentar dar conforto, cuidado, amor, deixando, muitas vezes, a sua própria vida de lado, muitos privados do contacto com os seus, em prol dos outros.
No inicio, quando víamos as imagens que nos inundavam os telejornais, do desespero que foi o inicio da pandemia em Itália, ou em Espanha, todos ficávamos petrificados…Mas, à medida que o tempo foi passando, que as vagas se foram sucedendo e que se tornou banal os telejornais abrirem com números e mais números, fomo-nos habituando e desumanizando, a sensação que tenho, é que se perdeu o olhar atento sobre o mundo… a humildade de perceber que isto é grave, e não é um problema de governo , nem das suas medidas, nem dos profissionais de saúde ou forças de segurança, não é um problema dos outros…
Quem verdadeiramente pertence a esta “linha da frente”?
Se não assumir que a resposta a esta questão é, cada um de nós, estarei talvez, a ignorar o meu principal papel enquanto pessoa nestes tempos difíceis. Porque sou eu que decido se cumpro ou não as medidas de proteção, que me protegem a mim e aos outros, porque sou eu que decido ou não, que ser livre implica a liberdade dos outros, por isso, seria neglicência minha, pensar, que apenas pertenço a esta “linha da frente”, porque sou profissional de saúde… Não… se tiver presente o importante papel que tenho em mão, e o assumir, sabendo que é meu e não dos outros, estarei a dar a resposta fundamental: o SIM, que este Movimento nos ensina todos os dias, o SIM que transforma a Vida. E sim, isto ficará mais fácil, e ficará tudo bem!