Recordar Padre Rotondi.
Conheci o Padre Rotondi, em 1962, num encontro de espiritualidade. A sala estava repleta de jovens e adolescentes que queriam caminhar no ritmo proposto pelo Movimento Oásis: um ritmo que o Padre Rotondi - aprendi-o e experimentei-o ao longo do tempo - marcava batendo, com a ponta dos dedos da mão, na mesa, aumentando cada vez mais a velocidade.
Era a primeira vez que via um jesuíta: reparei na túnica sem botões, apertada por uma larga faixa. Fiquei, imediatamente, impressionada com o seu olhar vivo e alegre; as suas palavras fortes e penetrantes; os seus gestos exuberantes que sabiam captar a atenção de todos. Ainda hoje, recordo a descrição, feita com palavras e gestos, da imagem do recipiente - símbolo de cada pessoa - a ser enchido com a água viva de Deus, de forma transbordante, para que ela, a água viva, nos alimentasse e à terra localizada abaixo e ao nosso redor. Pudemos "ver" o recipiente, que podia ser grande ou pequeno, muito grande ou muito pequeno; imaginávamos a forma e o tamanho mesmo que - sublinhou Padre Rotondi - não tivessem nenhuma importância. Era indispensável que o recipiente estivesse cheio até transbordar. Não só eu, mas todos os presentes “víamos” água fresquíssima que, de uma rocha das nossas belas montanhas, jorrava impetuosamente até transbordar. Posso dizer isto porque percebi a atenção e a tensão causadas pelas suas palavras, que iluminavam a mente e, imediatamente, chegavam ao coração. Ele continuou: “Tudo o que temos (o recipiente) é dom de Deus; tudo o que somos (mente, vontade, sentidos) é Seu dom; a força que impulsiona o recipiente para se colocar sob a cascata de água viva para ser enchida, é Seu dom. E o que podemos fazer? Apenas deixar-nos impulsionar pelo Espírito Santo.
Na altura, eu não imaginava que, alguns anos depois, o Senhor, também, me perguntou, como a Maria: "Queres?" E eu respondi, procurando imitar Maria, o meu pequeno "sim". Parti e vivi com o Padre Rotondi, durante 24 anos. Dia após dia, fiz a experiência da sua alegre criatividade e capacidade de comunicar, e sobretudo, do seu confiar-se, sempre, ao Espírito Santo para se deixar fazer por Deus e deixá-l’O fazer. Quer falasse aos jovens ou aos adultos, a noivos ou a idosos, a bispos, seminaristas, padres, atores, jornalistas, políticos, empresários, doentes, cientistas... sabia conquistar a atenção e comunicar, com clareza, as maravilhas do Evangelho, semeando com abundância.
Nos encontros e cursos com os jovens, percebia, imediatamente, se algum participava porque foi "obrigado" pelos pais e/ou educadores e decidiu ficar ali, fazendo outra coisa. O Padre Rotondi, imediatamente, adaptava o que tinha preparado, sem diminuí-lo, tentando entrar na sua alma, com as ideias de quem o ouvia e, depois, poder apresentar a mensagem impressionante do Evangelho, meta e ânsia de alturas e profundidades infinitas. Era exigente e queria que fossem respeitados os momentos de silêncio, para se deixar trabalhar pela palavra escutada; palavra eficaz porque nascia da sua profunda união com Deus. Depois, havia o tempo do diálogo e, à noite, explodia a alegria. Frequentemente, tocava acordeão ou violão e cantava, com entusiasmo, canções romanas ou canções juvenis, atraindo a todos para a alegria simples que nasce de um coração puro.
Como fundamento destas pequenas notas, uma última recordação, indelével e nostálgica: Padre Rotondi celebrava, muitas vezes, só para nós - consagradas no Instituto Secular ‘Ancilla Domini’ que ele fundou - que morávamos em "Villa Sorriso". A capela é pequena; ficávamos perto do altar, o que facilitava a escuta e a participação. À esquerda, num canto, uma pequena poltrona amarela. Terminada a liturgia da Palavra, o Padre Rotondi sentava-se e iniciava a homilia. Partilhava connosco o que sentia na sua mente e no seu coração, ajudando-nos a compreender, a dissecar a Palavra de Deus, convidando-nos a não ignorá-la, a ser autênticas, isto é, a transformá-la em vida para fazer ‘reflorescer o deserto’ com a água viva da Palavra de Deus.
Com o olhar em Maria, a imagem colocada no mármore sob a mesa do altar, a doce Senhora do Sim pintada por um amigo escultor (Mastroianni) a quem pediu que retratasse a jovem Maria no momento em que está a dizer um sim que mudará a história. Com as suas cores suaves e contornos não totalmente definidos, o olhar da jovem de Nazaré fala-nos de perturbação, acolhimento, escuta, diálogo e, por fim, plena adesão à fé: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra" (Lc 1,38).