Sou de Cristo, sou do Oásis!
Ao preparar estas linhas, fui atraído pelas palavras de S. Paulo na primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 1,12): “Refiro-me ao facto de cada um dizer: Eu sou de Paulo, ou Eu sou de Apolo, ou Eu sou de Cristo. Estará Cristo dividido?”. Vem isto a propósito de me terem ouvido dizer que me sinto pertença do Movimento Oásis. Poder-se-ia, pois, dizer que as palavras de S. Paulo são para mim. Em vez de dizer eu sou do Oásis, S. Paulo impele-me a dizer eu sou de Cristo. Será então uma falta este sentimento de pertença ao Oásis?
Resulta da natureza humana a nossa natureza relacional. Só entendemos o mundo em relação: com a natureza; com os outros; com Deus. Nenhum homem é uma ilha e por isso tudo se vive na relação. Melhor ainda: tudo se vive nas relações que se estabelecem e que alimentam, dão sabor e concretizam o que se vive. Também a nossa pertença a Deus e à Igreja é feita da mesma forma. Se é certo que se sente a relação com Deus na intimidade de uma oração, não é menos certo que a concretizamos na relação com os outros. Não é menos certo que a compreendemos melhor quando discutimos a fé com os outros. Não é menos verdade que a sentimos mais segura quando a conversamos com os outros. Por isso também a fé tem algumas características bairristas, que acabam por se revelar em sentimentos de pertença: a uma comunidade, um movimento, uma paróquia, um grupo paroquial.
Eu nasci numa família Católica praticante e assídua ao sacramento eucarístico. Segui, na íntegra, todo o programa de formação Cristã infantil e Juvenil e fiz todos os sacramentos da iniciação Cristã. Contudo, tudo isto foi insuficiente para solidificar a minha fé, e as revoluções de pensamento que acompanharam a minha formação universitária levaram-me a afastar-me da fé cristã. Contudo, um convite feito em jeito de desafio (nunca resisti a um desafio bem formulado e acutilante) por uma colega de curso levou-me a encontrar o movimento oásis na forma do grupo de jovens “Semente”. O ambiente de abertura, de discussão aberta e franca foi como uma bofetada que me despertou para uma realidade até então mal aprendida. Afinal a fé deve ser discutida. Afinal a religião não é um conjunto de dogmas e os crentes não são um conjunto de seguidores acríticos de verdades pré-estabelecidas. Foi um período fervilhante em que cresci paralelamente no ambiente científico da universidade e no ambiente cognitivo e espiritual da fé. Aprendi que a fé se procura com o intelecto, mas se apreende com o sentimento. Aprendi que o Homem não está completo sem que todas as suas potencialidades (técnicas, científicas, intelectuais, sentimentais, artísticas, religiosas, etc) estejam igualmente desenvolvidas. Descobri que Deus não me quer acrítico, mas com uma fé fundamentada, sólida e capaz de o defender do muito obscurantismo que fora e dentro da igreja conspiram para o tornar uma realidade distante do dia-a-dia da criação e das criaturas.
E com tudo isto, naturalmente, a minha relação com o movimento Oásis ganhou uma intimidade diferente da que tenho por outros movimentos e instituições que fazem a Igreja. Não fazem os outros movimentos menos importantes, menos significativos, menos válidos. Acontece apenas que o Oásis se tornou, para mim, a pedra de toque que me permitiu fazer o caminho até sentir na intimidade o toque de Cristo na minha vida. Será que este sentimento de pertença me faz fazer Cristo ficar dividido como se pode entender das palavras de S. Paulo?
Do mesmo modo que um Pai e uma Mãe, por amarem muito um filho não deixam de amar os outros filhos, também creio ser possível sentir-me ligado ao Oásis e ainda assim não perder o sentimento de pertença à Igreja Universal. E é precisamente isto que faz toda a diferença. Não sou do Oásis em oposição a ser de qualquer outra estrutura da Igreja e do Mundo. Sou do Oásis como forma de ser e estar na Igreja e no Mundo. Essa é mesmo a realidade da minha história: Apesar de me saber filho do Oásis, e de me sentir irreversivelmente “do Oásis”, a verdade é que se pode dizer que no contexto da Igreja trabalhei muito mais pela minha Paróquia e pelo CPM (Federação Portuguesa dos Centros de Preparação para o matrimónio) do que pelo movimento Oásis. Na verdade, muitos dos que vão ler estas palavras nem sequer me conhecerão do Oásis, onde o meu trabalho foi sempre pouco e pouco visível. Mas se passaram pela minha paróquia ou pelo CPM terão pelo menos ouvido falar em algum dos frutos do meu trabalho. Mas até isto sempre me fez sentir “do Oásis” já que foi assim que Pe. Rotondi sonhou o Oásis e os Oasistas: como o fermento que leveda a massa estando na massa e sendo indistinguível da massa.
É por tudo isto que me sinto confortável em dizer que: “Sou do Oásis” significando isto que no Oásis cresci para Cristo, me alimento de Cristo e descubro a vontade de Cristo para a minha Vida. Por outras palavras: Sou de Cristo sendo do Oásis.