Caminhos de Santiago.
“Caminhante não há caminho, o caminho faz-se ao andar” - Antonio Machado
É difícil ler algum evangelho sobre a vida ativa de Jesus em que não o encontremos em caminho: ora ia a caminho de tal sítio, ora chegava a tal aldeia, ora partia para a outra margem… é mais, não só se fazia acompanhar de discípulos e amigos como também os enviava com frequência aos caminhos: «O Senhor disse ao seu servo: ‘Sai pelos caminhos e azinhagas’» (Lc 14, 23).
Os cristãos herdamos este gene do movimento que se refletiu desde bem cedo em todos os missionários que percorreram grandes distâncias para anunciar o evangelho (segundo a tradição Tiago de Zebedeu chegaria até Hispânia) e nas peregrinações começaram a ser comuns entre os cristãos.
Esta disposição a pôr-se em caminho parte da experiência de que peregrinar é muito mais que um desporto, uma aventura ou um passeio turístico ou cultural. Peregrinar esconde, até para os mais distraídos, um convite à introspeção, à contemplação e à abertura à transcendência.
O caminho é um dos símbolos mais antigos para representar a vida humana. Pôr-se em caminho fisicamente, recorda-nos que a vida é caminho e movimento. Quem caminha durante algumas horas, quase sem querer, começa-se a perguntar pela sua vida como peregrino neste mundo. Sair da nossa rotina normal, desprender-nos das comodidades às que estamos habituados, sentir a natureza mais perto e dar espaço ao silêncio fazem que, com a passagem dos dias e dos quilómetros, a peregrinação se transforme numa escola que permita aprofundar no mais essencial da vida.
O caminho de Santiago é, por isso, para mim, uma experiência essencialmente de Encontro. Encontro, em primeiro lugar comigo próprio, com tudo o que carrego na minha mochila, com as metas que me fazem avançar, com as debilidades que sinto e as fortalezas com que conto para superá-las; em segundo lugar com os companheiros de caminho, os já conhecidos e aqueles que o próprio caminho nos brinda, e é que sair das pressas e do barulho das nossas rotinas permite-nos escutar e descobrir o outro de uma forma diferente e nova; e por último, com Deus que é Ele próprio caminho e que encarnou para caminhar ao nosso lado.
Tomo as palavras do compositor Uruguaio Jorge Drexler, para cantar essa certeza de que estamos vivos porque estamos em movimento:
“Da mesma forma que com as canções, os pássaros e os alfabetos
Se quiseres que algo morra, deixa-o quieto”.
Fazemos a mochila?