Uma vocação, uma história de amor.
Por detrás de cada história vocacional, está sempre uma história de amor. Jesus continua a chamar e a escolher, os que Ele quer, (…) não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jesus).
Ele conhece cada um de nós pelo próprio nome e fala-nos ao coração através da sua Palavra: “O Senhor dirigiu-me a seguinte mensagem: Antes de te ter dado a vida, eu já te conhecia; antes de a tua mãe te ter dado à luz, já eu te tinha escolhido, para seres profeta entre os pagãos.” Eu respondi; Ah! Senhor, meu Deus, eu não sei falar: sou ainda muito novo!” Porém, o Senhor replicou: “Não digas, sou ainda muito novo, vai aonde Eu te enviar, e fala como eu te mandar. Não tenhas medo de ninguém; eu estarei ao teu lado para te proteger, Sou Eu que to digo”. (Jer. 1, 4-8)
Sempre me identifiquei com esta Palavra do Profeta Jeremias, porque experimentei esta predileção de Deus, este cuidado protetor, este olhar sedutor poisado sobre mim. Fui crescendo a conhecer este Deus que não desiste de nós quando nos deseja para Ele e nos quer confiar uma missão. Como nos diz o Papa Francisco, todos temos uma missão e não andamos nesta terra, simplesmente ao acaso, nem por acaso.
Nasci numa família onde fui sempre muito amada e recordo que foi a minha mãe que me ensinou as primeiras orações. Ela era muito piedosa, tinha uma grande devoção a Maria e falava-me muito de Jesus. Como é importante a família como escola da fé! Quando eu vinha da catequese perguntava-me sempre o que é que eu tinha aprendido e sentava-me no seu colo e continuava a catequese, contado -me as mais histórias de Jesus – as parábolas. E tinha arte, a minha mãe, para me fazer imaginar e entrar em cena nas situações e factos narrados no Evangelho! Começou bem cedo a minha paixão por Jesus. Tudo n’ Ele me fascinava! Aprendi a olhar a vida como uma dádiva e que só é verdadeiramente feliz quem se dá e procura fazer os outros felizes.
Porque os meus pais sempre me proporcionaram o que lhes parecia ser o melhor para mim, colocaram-me a estudar no colégio de S. José e Vila Real, das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e foi ali que eu, em plena adolescência senti o desejo profundo de ser consagrada e guardava isso como um tesouro que não queria que ninguém descobrisse. Fazia muitas perguntas às Irmãs sobre a sua vida, para mim misteriosa e, espreitava-as muitas vezes quando se retiravam e iam para a capela rezar. Gostava muito das Irmãs, pareciam-me muito felizes e admirava a sua competência, a sua entrega e doação.
Entretanto, li a biografia de S. Francisco e encontrei nele um caminho de seguimento de Jesus, tal como em Santa Clara de Assis, vidas muito cheias de uma espiritualidade que preenchia os meus sonhos de jovem em busca de um projeto de vida feliz.
Sempre frequentei grupos de jovens, encontros, cresci no Movimento Oásis que me ensinou a dizer Sim a Deus e ver a vida como um serviço aos outros. Durante o tempo da faculdade integrei-me nas paróquias a fazer catequese, participei em encontros de Taizé, na Jufra, Movimento de Jovens Franciscanos e fui tomando consciência desta Presença permanente e gozosa do meu “Companheiro de viagem” para onde quer que eu fosse.
A sós, diante de Deus e com a ajuda do acompanhamento de discernimento vocacional fui-me deixando conduzir pelas interpelações de Jesus, minha razão de ser e de viver. Não foi fácil dizer à família, aos amigos e colegas da faculdade, mas acabaram por entender e até dizer que eu era diferente… houve reações variadas mas alguns não se surpreenderam.
Escolhi esta congregação porque, cresci com as Irmãs, devo-lhes muito do que sou e identifico-me com o carisma da Hospitalidade. Tentar ser um rosto da ternura e do amor incondicional de Deus, tornou-se o meu projeto de vida; ser luz a iluminar e a aquecer a todos, especialmente aos mais necessitados. Como Jesus que passou fazendo o Bem, e o nosso lema é mesmo “Onde houver o Bem a fazer que se faça” e é o que tenho tentado viver por onde vou passando, nas diferentes frentes de Missão que Deus me confia.
Deixo uma palavra aos jovens: Tendes nas mãos o maior tesouro que é a vossa vida. Ela é um dom precioso que não é para guardar. Todos somos chamados à santidade, pelo Batismo, escutai o convite que O Senhor faz a cada um. É um bom investimento, o tempo que gastais a procurar em Jesus as grandes respostas para as perguntas essenciais da vida. Perguntai-Lhe, como o jovem Francisco de Assis: “Senhor, que queres que eu faça?” Jesus continua a chamar profetas de vida e do amor, mas é preciso parar, fazer silêncio, rezar e escutar a voz de Deus. Ele diz e rediz nas nossas vidas: “Sou Eu, não tenhais medo!” (Jo. 6,20)
“Cada vocação é uma história de amor única e irrepetível” - disse um dia João Paulo II, o grande amigo dos jovens que não se cansava de repetir estas palavras sempre atuais:” Abri as portas a Cristo. Não tenhais medo de ser santos”!