Um olhar fotográfico sobre a pandemia
Brynn Anderson - The Atlantic Magazine (07/12/2020)
Num ano em que a pandemia ocupou o palco central em todo o mundo, gostaria de partilhar uma das imagens que fazem parte do Top 25 de fotos de notícias, em 2020 - uma seleção da revista The Atlantic. A fotografia é do foto-jornalista Brynn Anderson e capta Yasmine Protho, uma finalista do secundário de uma escola na Geórgia, que usa o seu retrato na máscara. Isso fez-me pensar na falta que sentimos de ver o rosto dos outros - tendo em conta que, desde março, vemos apenas uma fatia dele na maioria das pessoas com quem nos cruzamos - ou a falta de até mostrarmos, literalmente, o nosso sorriso, quando os olhos parecem não chegar para o transmitir.
Nós interpretamos linhas, curvas e sombras, constantemente em “scan” à procura de informações e os rostos significam muito para nós, humanos, sendo capazes de transparecer os nossos sentimentos e personalidades. De alguma forma, o conforto de ver “caras conhecidas”, de “estender a mão”, dar um “passou-bem” ou o "aperto de mão" são coisas que já não usufruimos, não na sua total autenticidade, mas que as tínhamos como garantidas.
Numa cultura frequentemente e, mais do que nunca, dominada pela tecnologia, podem multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. O futuro parece estar refém da incerteza, que não permite ter estabilidade. Naturalmente que o Zoom veio ajudar bastante para que pudéssemos manter o melhor contacto possível com as nossas “caras conhecidas” e os abraços dos amigos e familiares, mas a fadiga do ecrã também já é sentida por muitos de nós. O digital e bidimensional, principalmente nas reuniões em grupo, pode não nos aproximar emocionalmente, mas pelo contrário, aplanar as nossas semelhanças.
Nesse sentido, torna-se essencial que a máscara se mantenha como sinal de respeito pela presença física do outro, mas que estejamos atentos aos nossos detalhes, aos nossos poros, aos mais pequenos movimentos, à verdade de cada um, que nos torna tão únicos, tão delicados, tão singulares e tão vivos! Como Cristãos, temos o desejo de amar, de servir, de viver em compaixão e em missão. Que esperanças nos animam e fazem avançar? Como podemos partilhá-las com quem fazemos encontro?