Sagrada Família.

Madrid, Museu Nacional del Prado- Madonna della Quercia (1518-1520, óleo sobre tela)

Madrid, Museu Nacional del Prado- Madonna della Quercia (1518-1520, óleo sobre tela)

Rafael Sanzio (1483-1520) morre a 6 de abril de 1520, uma sexta-feira santa, dia em que completava 37 anos exatos. Nos 500 anos da morte do chamado “divin pittore”, podemos admirar uma obra do final da sua breve vida e que seria completada por um seu discípulo, após a sua morte. Revela, contudo, a potente conceção das suas obras plenas de energia e espelha a sua alegria de viver.

Esta Sagrada família insere-se numa série de pinturas romanas dedicadas ao mesmo tema. Segue uma tipologia compositiva muito semelhante, ora com Ana, ora com Isabel ou José. Preferi esta com José, pois estamos no ano a ele dedicado. Deve ter havido um desenho base, no qual Rafael era exímio, e que serviu de esquema figurativo para o artista e colaboradores atenderem a uma clientela desejosa desta representação.

Rafael, cultivador dos restos arqueológicos existentes em Roma, recorre a motivos da antiguidade clássica, como se verifica aqui, seja na coluna do primeiro plano, seja no tratamento das posturas dos panejamentos das vestes de Maria e na pose do Menino Jesus. A experiência e amor pela arqueologia, demonstrada na sua linguagem artística, não impede a sua liberdade criativa. Aliás, criará o clássico como cânone que marcará a pintura por vários séculos.

No fundo perfila-se um carvalho, que oferece o título para a obra, e vislumbra-se uma ruína romana (talvez a basílica de Maxêncio ou termas de Caracala).

O jogo entre as duas crianças (os primos Jesus e João) é orientado de modo variado nas diversas pinturas do tema. Neste quadro, João desenrola uma filactera com a inscrição “Ecce Agnus Dei” (Eis o Cordeiro de Deus), que seria própria do seu papel de percursor: anunciar a chegada do Messias. O Menino Jesus, apontando para a inscrição, indaga Maria sobre a verdade de tal futuro. Esta mostra rosto sereno sem o amedrontar. Mais pensativo mostra-se José, interrogando-se sobre o sentido de tudo isto e como pode participar e colaborar para que esta família corresponda ao sonho e vontade de Deus.

Deixemos o olhar pousar nesta beleza tão graciosa e carregada de profissionalismo do multiforme artista. É muito significativa a afirmação de Pablo Picasso: “Sim, Leonardo da Vinci prometeu-nos o céu […] mas Rafael deu-o”. Gozemos desta oferta e meditemos sobre o futuro, com um presente digno de bem o preparar.

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