Um LIVRO - várias leituras
“Os livros podem ser divididos em dois grupos: aqueles do momento e aqueles de sempre”. (John Ruskin)
Aceitar escrever acerca de um livro tem sido um verdadeiro quebra cabeças, porquanto os livros têm sido, ao longo de toda a minha vida, uma espécie de vício, e o exercício da escolha é, deveras, difícil!
O momento da escolha acontece, obedecendo àquela voz interior que, do meio da profusão de títulos e memórias, me segreda a partilha de um livro significativo e marcante, quando nele mergulhei e sempre que preciso de carregar a bateria da minha resiliência:
O Homem em Busca de um Sentido de Viktor E. Frankl, 2012.
Neste manancial de experiências vividas em Auschwitz, o Psicoterapeuta preocupa-se em descobrir porque razão alguém, como ele próprio, sobreviveu e, não, porque a maioria morreu: “Num derradeiro e violento protesto contra o desânimo da morte iminente, senti o meu espírito penetrar as trevas em redor. Senti como transcendia aquele mundo de desespero sem sentido e, vindo não sei bem de onde, escutei um vitorioso “Sim” em resposta à minha pergunta sobre a existência de um sentido último…”
Escrito em 1946, o livro divide-se em duas partes complementares; na primeira, o autor narra a dramática luta pela sobrevivência – a sua e a dos seus companheiros – e, na segunda, sintetiza o método desenvolvido no campo de concentração, a Logoterapia. Esta psicoterapia centra-se no significado da existência humana, bem como na busca desse sentido por parte dos seres humanos: “… a transitoriedade da nossa existência não a torna, de forma alguma, destituída de sentido. Mas constitui de facto a nossa responsabilidade; pois tudo se resume à nossa capacidade para realizarmos as possibilidades essencialmente transitórias.” (p.121)
Confesso que é um dos meus livros de sempre, não pelo prazer mórbido de vasculhar o sofrimento, mas pela luz vibrante, poderosa e animadora que permeia o horror e brilha através da ousadia edificante dos que sobreviveram “Et lux in tenebris lucet”!
Gratidão a Viktor Frankl, pela sua disponibilidade generosa em connosco partilhar esta narrativa de 160 páginas. Quem sabe se, nestas páginas, podemos encontrar essa luz animadora, que nos ajude a dar sentido aos dias que vivemos há mais de ano?