Cruzamentos: o teatro e a religião na minha vida.
Quando pensamos em teatro e religião pode vir à cabeça que pouco têm em comum. Eu também achava isso até a vida me ter trocado as voltas e agora não conseguir viver sem os dois. Desde criança que sempre gostei do mundo do imaginário, da criatividade, de inventar histórias e personagens, mas foi no grupo de catequese com as apresentações que íamos fazendo e as histórias que íamos contando, que fui sentindo que o mundo da interpretação tinha uma importância mais especial na minha vida e então decidi explorá-lo entrando para um grupo de formação teatral.
O teatro é uma ferramenta pedagógica e de desenvolvimento pessoal que me permitiram encontrar e definir a minha identidade através da vivência de muitas realidades diferentes da minha. Todos os dias o teatro me dá competências para que consiga fazer com que Deus chegue aos outros. Permite-me ter dos sentimentos mais bonitos e ao mesmo tempo mais difícil e exigente de calçar os sapatos do outro, de sair da minha vida e entrar totalmente na vida da personagem que estou a interpretar. Teatro é comunicação, é diálogo. É o que falta na nossa sociedade. Colocar-nos mais no lugar do outro, ouvi-lo e estar disponível para ele.
Foi principalmente isso que o Teatro me deu, uma sensibilidade especial do lugar e da vida do outro, de pensar e de sentir por mim. Nem sempre foi fácil e muitas vezes o choro apoderou-se. Quando penso efetivamente naquilo que digo, e por vezes são histórias muito dificeis, a emoção toma conta de mim.
Na nossa sociedade avançada em tecnologia e agora isolada e confinada, presa a vários ecrãs, individualizada, desinteressada e dividida, o Teatro dá-nos o oposto: os momentos de diálogo, de reflexão, de partilha e de encontro. Nunca dá respostas, dá sempre liberdade a que cada um tenha as suas respostas.
A religião não pode viver sem o teatro, sem a arte, sem cultura. E isso já vemos há muitos anos. Os teatros mais primitivos foram as representações da via sacra, do Natal, de várias passagens biblicas. E agora continua a acontecer. É uma oportunidade de sentir Deus mais intimamente. Um dos exemplos que gostaria de mencionar é o Teatro Musical “Wojtyla”, que estreou em 2010 e é um musical português sobre o Papa João Paulo II baseado em histórias veridicas e testemunhos e no qual proponho uma música do mesmo para reflexão.
Termino citando o Cardeal Tolentino Mendonça: “Não é, portanto, estranho falar de religião e teatro. Estranho é não falar.” Que este caminho da religião e da cultura seja um cruzamento e não duas estradas paralelas na vida de cada um.