Evocação do padre Carlos Pereira.
Conheci e convivi com o Pe Carlos Pereira em dois ambientes humanos: o Seminário e o Movimento Oásis.
Foi no Seminário menor do Bom Pastor, era eu adolescente, que conheci o Pe Carlos Pereira. Ele vinha periodicamente ao Seminário para atender espiritualmente os rapazes. Era uma manhã por semana, a escutar e a conversar com os seminaristas. Desde cedo me encantou a sua bonomia e a forma como me acolhia e tratava naqueles momentos de conversa, confissão e orientação espiritual… A sua figura imponente contrastava com o seu sorriso largo e a sua boa disposição. Era um verdadeiro “pai espiritual”. Um homem enamorado de Jesus e de Maria, sempre disponível para ouvir, aconselhar e deixar optar em liberdade.
A dada altura convidou-me a conhecer o Movimento Oásis. Aí alargou-se o meu conhecimento do Padre Carlos: um homem muito querido por todos, sempre bem-disposto e empenhado na vivência e divulgação da espiritualidade do “Serviço por Amor”. Um “jovem” entre os jovens, apreciador de uma boa anedota e “especialista” na animação dos convívios à noite, nos “Cursos Oásis”. Acompanhava alguns grupos de jovens universitários do Movimento e participava em acampamentos e encontros de divulgação do Movimento. Quando expunha algum tema ou comentava alguma passagem do Evangelho, fechava os olhos, como se estivesse a contemplar o que dizia ou a saborear o que partilhava.
Com a passagem do Seminário Menor para o Maior, conheci o Pe Carlos no contacto diário e na vida comunitária. Agora era meu Prefeito e responsável de corredor. A mesma alegria e jovialidade. O mesmo respeito e admiração por parte de toda a comunidade que constituía o Seminário.
Durante os seis anos de Seminário maior, cresceu a minha admiração e respeito por este homem de Deus. Sempre presente nas atividades comunitárias, sempre atento a cada um, fosse do Porto, de Vila Real ou de Bragança (Dioceses presentes no meu tempo). Na Sé era o Mestre de Cerimónias. Aí víamos o seu amor à Liturgia. Com que cuidado preparava as celebrações e envolvia os seminaristas. Recordo com grande carinho e saudade as celebrações da Semana Santa na Sé.
Gerações e gerações de padres passaram pelo Seminário Maior do Porto e foram formadas por ele. Todos recordam a sua candura, humildade e despojamento. Foi uma vida (perto de 60 anos) dedicada ao Seminário. O Seminário era realmente o seu amor e a sua vida. A sua casa.
A última vez que o vi foi no ano de 2020, numa visita dos utentes da Casa Sacerdotal à Vigararia de Arouca-Vale de Cambra. Depois da celebração da Eucaristia, almoçamos todos juntos. Recordo as palavras com que sempre me saudava: “Olá, menino”. Éramos os seus “meninos”. E ele era e sempre será o nosso “pai” espiritual.
Obrigado, Pe Carlos. Pelo seu carinho, pelo seu amor. Pela vida de serviço ao Seminário e à Igreja. Junto do Pai, interceda pelos seus “meninos” e pela Igreja!