História da minha vocação.

Falar da história da minha vocação não traz a reboque qualquer tipo de teofania maravilhosa, daquelas que arrebatam o coração e eliminam toda a leve sombra de dúvida e de incerteza; é sobretudo dizer um encontro que eu não sei situar na minha vida, mas que sei fundamental.

«Quero ser Padre!» - esta era a epígrafe de um livro que ainda não tinha sido folheado. Tudo eram apenas folhas em branco que seriam escritas posteriormente e o Autor não era eu. Dizia-o com a inconsciência infantil de alguém que deseja algo ainda que não saiba com certeza onde o encontrar, nem em que é que se concretiza. Nesse livro seriam escritos os tempos e os lugares por onde me conduzia a linha da vida e simultaneamente os olhares que comigo se cruzaram e continuam a cruzar, alguns, hoje, a partir da janela da casa do Pai! É um trilho feito ao colo do Bom Deus e amparado pelos irmãos. Tudo é Graça!

Das mais remotas memórias, ficou gravada aquela tarde em que para me adormecer a minha mãe cantava: «Eu estou à porta e chamo diz o Senhor: “Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele”. Retenho na memória e guardo-o no coração, sem uma razão aparente. Sei apenas que desde miúdo o sacerdócio me fascinava. Era o início de uma construção que passa essencialmente pelo interior numa descoberta de dentro para fora. Dizer que se quer ser padre aos cinco anos é diferente de o repetir aos treze ou aos vinte. Também isto leva o seu tempo.

As recordações da infância na minha terra – Santa Eulália da Ordem – trazem à memória a procissão da Senhora de Guadalupe, o terço em Maio, os primeiros elementos da catequese no velho salão, a Primeira Comunhão, a Cruzada Eucarística, a festa do Coração de Jesus… e as brincadeiras com os miúdos da minha idade, as missas e as procissões que fazia com os meus irmãos e primos. No interior permanecia silenciosa o desejo de ser como o meu pároco, de ajudar as pessoas e de ser fiel a Jesus. Ainda era cedo para dar a resposta definitiva, era preciso deixar amadurecer a inquietação interior. O caminho faz-se em pequenos passos. Primeiro veio o pré-seminário (do sexto ao nono ano), depois o Seminário Menor (Secundário e Propedêutico) e por fim o Seminário Maior.

Confirmei a primeira certeza: é o Bom Deus quem escreve o livro. É Ele que está ao leme do barco da vida, que o firma nas ondas mais assustadoras do meu caminho e me sustenta nos dias de tempestade.

O Movimento Oásis entra numa dessas etapas da vida: o estágio pastoral na Paróquia de Ermesinde. Um seminarista acabado de sair do Seminário, muito formatado por uma ideia anti-movimentos esbarrou-se numa casa onde descobriu que o Espírito sopra onde quer. O contacto com as histórias de gente apaixonada por Cristo que passou pela casa de Mirante dos Sonhos fez-me perceber como é que o Espírito trabalha em tantos homens e mulheres de todos os tempos. Já tenho dito que para mim subir ao Oásis é como subir ao Monte Tabor. Nele encontramos um Jesus transfigurado que nos enche o interior com a força necessária para descermos o monte e continuarmos a nossa missão servindo por Amor com o Sim oblativo da minha vida. É este o ministério que me foi confiado no dia 8 de dezembro pela imposição das mãos do Bispo: crê o que lês; ensina o que crês e vive o que ensinas. O ministério diaconal, para mim, só pode realizar-se plenamente em Igreja, isto é, assembleia de irmãos convocados pelo mesmo Espírito. E isso, também o experimento no Oásis.

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O Movimento Oásis e a espiritualidade do serviço no meu caminho vocacional e ministerial.

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Adeus Erasmus, Olá Futuro!