Por vezes, o silêncio.

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Na varanda a ouvir o silêncio. O silêncio em forma de canto dos pássaros, de água a correr, de vento a bailar por entre árvores e montanhas. Porque chamo silêncio ao ruído da “mãe” natureza? Ouço com a solenidade de quem escuta os Anjos ou Deus, a solenidade que se põe numa liturgia ou numa oração. O canto dos pássaros, na sua polifonia, soa-me a silêncio tão longe está dos ruídos comuns que preenchem os meus dias. E a água a cantar?! Que estranho som! Que belíssimo som, ancestral, vem de outras eras carregado de harmonia e de vida. Ouço-a como se lhe adivinhasse o curso verde e pedregoso. O vento sopra, assobia, dança por entre árvores e montanhas. É senhor. O seu poder invisível remete para o Teu poder que, não se vendo, se faz sentir, se faz notar. O Teu Espírito é força que baila, poderosa e invisível, por entre mim e nós. Serei capaz de Te ouvir no silêncio, neste silêncio? Ou terão de se calar todos os sons para que a tua voz ressoe mansa e potente? O vento agita-se e enrola-se nos pinheiros que, trémulos, se vergam e ondulam. A montanha permanece firme e soberana. Beijada pelo sol que a ilumina e aquece, ela acolhe impávida e serena todos os sons, movimentos e cores e oferece-se aos meus olhos nessa grandeza quieta e inquietante, não fossem as nuvens e o imenso azul do céu e seria ela a reinar. Mas o infinito que se vislumbra além do imenso céu sugere-me outra imensidão, outra realidade… terei de ir às nuvens para Te escutar? Elas sim, são silenciosas e brancas e leves e desprendidas de si, qualquer vento as leva e as desfaz e elas deixam como se o seu ser fosse o não ser. Gostava de ser uma nuvem que o vento do Teu Espírito fizesse e desfizesse a seu bel prazer, em silêncio. Além disso se fosse nuvem o Céu seria a minha morada, habitaria o Infinito, perder-me ia nesse abismo sem montanhas, sem horizonte, sem limites… Sinto o cheiro dos pinhais e da natureza que se perfuma de fragrâncias que o vento traz às minhas narinas. É indiscritível a leveza do lugar que o silêncio habita. Intuo que a solidão está na base da vida e que só ela nos proporciona a paixão por tudo e todas as coisas. A raiz do amor prendeu-se à raiz da solidão e agora crescem juntas. Por vezes, fazem-se convidadas e sentam-se na minha varanda. É o silêncio.

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